quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Sem Saber Rezar




Autor: Lisandro Amaral

Caminho que a alma traduz
vestido de luz, num motivo
guardado...
caminho que o tempo reluz
do calvário e da cruz no
poema sangrado

eu teimo ao quebrar
meu silêncio
entre o muito que penso
e no algo que leio...
nas preces e aromas de
incenso, onde rezo e repenso
os mistérios que creio!
Além de mim, não há um fim!

Nem deverá...
além da cruz, não houve a luz?
– nem brilhará?
os muitos motivos sangrados,
do cristo pregado, jamais saberei
jamais saberás!

Eu não brilharei, tu não brilharás...
Enquanto a vaidade do mundo
falar mais profundo que a
voz dessa luz,
enquanto os mistérios que
cremos e o algo que lemos
não possa explicar:

Eu não brilharei, tu não brilharás...
Brilha... a beleza de uma
corticeira refletindo o sol;
brilha... o retouço de um
cordeiro frente ao arrebol!
Luz na paisagem, de um final
de tarde, onde paro e penso:
se eu brilharei? Se alguém brilhará?
Ainda chora o homem por não ver a luz de um bom por de sol!
Que o bom Deus te guarde poesia viva...
...que o bom Deus te guarde!

Pingos rebolcados, cantos encantados de sabiás e vidas
vem na recolhida, luz enternecida de um clarim barreiro
que abre o peito e canta, que abre o peito e canta
por ter mais garganta que estes pregadores que assinam pastores
e a gritos e ditos formam falsos ritos na ambição mesquinha
de roubar o pouco de quem já vem louco pela vida amarga
pela vida l a r g a...

meu canto é um grito e tem missão guerreira.
de sentar basteira e levantar trincheiras por onde andejar!
Meu canto é triste porque é triste o homem que ainda vai ter fome sem saber rezar...
meu canto é triste porque é triste o homem!

Encilhei tiflando noutro dia bueno!
Lambia o sereno meu par de choronas,
agarrei cordeona, e já me pus montado
dizendo à campanha que estava de prece
e a luz que enternece meu canto pampeiro
é a mesma contida no cardeal guerreiro
e o pranto, luzeiro, que a manhã derrama
é o mesmo que flama no olhar do Barreiro!

Num culto campeiro sem bronze nem ouro
somente as bombilhas prateadas no couro,
somente as argolas num buçal de touro
que foram compradas com suor dos calos
não foram esmolas ao som dos badalos
me acompanham rindo quando teimo e vivo!

E hoje refletem motivos de luz
aos olhos da cruz de um céu domingueiro.
Pergunto ao dinheiro que o campo não vê,
Pergunto ao pastor que o pobre ainda crê,
Terá no amanhã algo mais que colher
aquele que escuta sermões sem saber?

Que o campo é quem reza no olhar da alvorada
que o grito e os ditos que a missa decora
de nada combinam com o homem que chora
e de nada nos servem de alento e escora!

Encilho matreiro - maneador e poncho -
me escolta a esperança de firmar meu canto
e aqui, brilharei... e assim - brilharás!
Os muitos motivos do Cristo pregado?
Então saberei? Então saberás?
Meu canto é um grito e tem missão guerreira...
de sentar basteiras e levantar trincheiras por onde andejar...
meu canto é triste porque é triste o homem
que ainda vai ter fome sem saber rezar...

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