sexta-feira, 21 de outubro de 2011
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Culatreiro -Adriano Silva Alves
Hoje não quis ser ponteiro,
Hoje não quis ser ponteiro...
Preferi vir na culatra,
Pra ver a estrada depois.
Alma judiada, corpo cansado,
Um resto de fumo,
Compondo um palheiro;
A tropa delgada, sentida do frio,
Pelo grosso, segue a marcha;
E eu que quis vir na culatra
E eu que quis vir na culatra...
Pra ver a estrada depois.
Quero falar do tropeiro,
Das geadas, luas, pampeiro;
Não quero lembrar dos bois.
Ontem na última ronda
Depois do mate, o assado,
Bebi da noite outro trago
De nostalgia e silêncio.
Nem mesmo a seda do lenço
Pode defender o fio
Da lágrima que cortava,
Quando o vento bordoneava
Outra triste melodia
Que copiei, pra neste dia,
Me acompanhar no assobio.
Mudei semblante e cavalo
Hoje no “baio encerado”,
Ontem, o moro prateado.
Deixou meus passos na estrada.
Mas hoje...
Hoje é o fim da jornada
E eu que quis vir na culatra;
E eu que quis vir na culatra
Pra ver a estrada depois...
Deixo pra traz mais que o trote,
E empurro a diante minha sorte
Junto ao destino dos bois.
Chego na frente da estância
Já quase no fim da tarde,
E um resto de sol invade
A nuvem clara de poeira.
Não vi abrir a porteira
Hoje me “toca” fechar,
Mas faço a tropa cruzar
Pelo grosso, mais delgada;
Inteira a conta na talha
Pouca ‘plata’ pra contar.
E a noite vem debruçar
Sobre o segredo do dia,
A mesma triste melodia
Que copiei pra o assobio.
Outro pouso, mesmo fio,
Da lágrima, cortando o lenço;
Solto o baio e então repenso
Talvez a própria existência;
Eu que quis vir na culatra
Eu que quis vir na culatra;
Pra ver a estrada depois...
Sem ter a própria querência!
Sem ter a própria querência...
Achei querência pra os bois.
Depois do mate, do assado.
Não quis beber mais um trago
Da minha própria nostalgia;
Adormeci...
E a melodia do vento
Me fez esquecer o tempo;
Pra esperar a manhã.
Fechar de novo a porteira
De tiro o baio encerado
Ao tranco, o moro prateado,
Deixando os passos na estrada.
O mesmo corpo cansado,
A mesma alma judiada...
O mesmo resto de fumo
Compondo um novo palheiro.
Eu que não quis ser ponteiro...
Eu que quis vir na culatra!
Eu que quis vir na culatra,
Pra ver a estrada depois...
Ontem fui homem, tropeiro!
Ontem fui homem, tropeiro.
Amanhã...
Amanhã, também serei boi.
Lua Cheia, julho 2011.
Adriano Silva Alves.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Minha Primavera
Cada espanto alardiado pelos quero-queros,
Cada aroma primaveral que invade o olfato
E nos conta da jornada percorrida nos ares....
O penetrar de um canto meio a tantos
É indiscutivelmente uma manifestação única
Do renascimento...
Coxilhas que banhadas de vida
Acumulam crescentes de berros
Que ressoam longe nas planuras...
O atestado escrito pelo tempo e assinado,
Pelo sol com o permiso da lua....
Gestando a sombra,
Que os umbus já pariram
Tantos motivos...tantos olhares
Partejando, igual se encontra
A minha voz – potro novo-
Por ser de mesma linhagem...
A tuna criada meio as pedras,
Ao campo sujo das chircas,
Das macegas em flor...
Ao sangue de boi que ronda
Como pedindo atenção
E cruza mais longe do chão
Um tajã monge cantor...
Onde meus olhos sangram.
Onde as sangas choram,
A existência das magoas,
E das partidas...
Encontro o meu eu,
Em tantas vidas
Que já não sei quem eu sou
Nos corredores,
Nas horas,nas nuvens...
- lá fora-
No escuro,no rio,na potrada,
Nos sois...
- mas não sorriu-
Nas luas,nas mortes,
Quem nunca se viu no seu ontem,
Na primavera das flores?...
E se os sois e luas
Teimam em me iluminar
Me encontro nas sombras do ontem
Olhando pra traz -eu venho-....
Pedro Almeida setembro de 2011
Assinar:
Postagens (Atom)