quinta-feira, 31 de março de 2011
Uma Noite de Agosto(Eron Vaz Mattos)
Que noite braba lá fora ...
Releio versos antigos,
delatores de outros tempos,
nos quais a alma bordava
- em tecidos de ilusões -
sonhos em lindos matizes
que pareciam tão fáceis
de pateá-los de à cavalo.
Pico um naco devagar
e o sentimento de xucro
me faz crescer a garganta!
Restevas de mocidade
nas dobras do pensamento!
O meu cavalo arrepiado
- sob este teto de zinco
que deixa escapar goteiras -
as orelhas de ouvir longes
e uma pata descansada,
balança a linda figura
na sombra que a lamparina
- movida ao sopro das frestas -
esparrama no galpão.
Alguns jujos pendurados
perto à cambona furada
onde a corruíra fez ninho!
O cusco procura a volta
por um lado, para outro
- dá uma puchada na terra -
de um buraquito redondo
- que ele abriu perto do fogo -
e se enrodilha de novo,
como quem vira os pelegos
e pega a volta do poncho
se acomodando no catre.
O vento insiste, forceja ...
- um trago forte, outro mate -
e uma pitada mais lenta!
Este meu poncho judiado
- um companheiro de sempre -
e o par-de-botas molhado
- sola queimada do estribo
e dos aros das esporas –
fazem parte do cenário
que o mundo bruto, lá fora,
reproduz em preto e branco
na tela humilde e soturna
estirada em quatro esteios
de cerne de coronilha.
Junto ao tição de espenilho
a cambona ensaia um canto
como pedindo silêncio!
Na velha trempe de arame
- meio cilhona do fogo -
o sangrador vai tostando
- como um remendo de morte
na prova da estupidez –
goteando lentos protestos
como se a dor respingasse
- em lágrimas, pela vida –
abrindo fumos de luto
no frágil painel de cinzas
entre o rubor dos tições!
Quedou-se muda a guitarra
ao recostar nos arreios
sua alma de vidala;
Pois nos momentos de prece
somente a quietude fala!
Pai nosso que estais no céu
precisai vir aos galpões !
Nestes silêncios que tenho
fico granando esperanças
embonecadas há tempo
nas hastes do coração;
Pois quem vive de à cavalo
e tem apenas domingos,
precisa enganar tristezas
multiplicando as pisadas
das quatro patas do pingo.
Quem pouco entende
este mundo,
cria basteiras em si;
e procura arrinconar
- nas emoções contrariadas –
amenidades vividas
- para iludir a razão –
como quem usa um pelego,
que foi sovado a capricho,
pra moldar bem os arreios
quando se aperta o cinchão.
A chuva timbra o agosto
com ganas de arrasar mundo,
e os cinamomos corpeam
como quem tenta escapar
de punhaladas que o vento
- com planchaços de friagem
lhes acaba de acertar!
A casuarina repete
o que aprendeu com os ventos
em consertos milenares;
Qual um músico no escuro
- com dedos encarangados -
sóbrio, nostálgico e só,
tocando em flauta dolente
a melodia que o tempo
escreveu na partitura
alongando a nota dó!
Pai nosso que estais no céu,
fazei voltar as estrelas
e as luas brandas, inteiras
-Refletidas nos serenos –
entre os mágicos aromas
que a primavera semeia
nos pastiçais destes campos.
Trazei de volta a alegria
dos cardeais abrindo o canto
entre galhos florecidos…
e a ingenuidade festiva
dos cordeiros retoçando
sobre os trevais das ladeiras…
Que noite braba lá fora…
componho o mate e prossigo
mirando a vida, de em pêlo,
-tranquear em rumo confuso-
no lombo duro do tempo!
domingo, 27 de março de 2011
sábado, 26 de março de 2011
quarta-feira, 23 de março de 2011
segunda-feira, 14 de março de 2011
domingo, 13 de março de 2011
sexta-feira, 11 de março de 2011
quinta-feira, 10 de março de 2011
segunda-feira, 7 de março de 2011
10°Acampamento da Canção _Vencedores
Muita emoção na entrega da premiação do 10.º Acampamento da Canção Nativa de Campo Bom, na madrugada desse domingo. Autor da letra da música Descendente, Lisandro Amaral recebeu o troféu de 1.º lugar acompanhado pelos dois filhos: João Antônio, de apenas 8 meses (para quem fez a letra, quando nasceu), e Maria Rita, 4 anos. O momento bem representativo emocionou o público. "Cantando nossos ancestrais, divulgamos da melhor maneira nossos descendentes", disse o Lisandro, aplaudidíssimo pelo público que superlotou a estrutura montada para o festival, em sua noite de encerramento no Parque do Trabalhador.
Tanto organizadores quanto músicos comemoraram o sucesso desse retorno do Acampamento da Canção e do Bivaque. Ainda nesse domingo volto aqui para contar mais sobre muitos pontos emocionantes do festival - e também para trazer várias fotos da noite final! Parabéns aos organizadores. Foi uma grande festa da música gaúcha!
*VENCEDORES DO 10.º ACAMPAMENTO DA CANÇÃO:
1.º Lugar: Descendente, com letra de Lisandro Amaral e música Cristian Camargo, na interpretação de Lisandro Amaral
2.º Lugar: Milonga de Campo a Laurindo Pedra, com letra de Fabio Maciel e Gujo Teixeira e música de Vitor Amorim, na interpretação de Marcelo Oliveira e Índio Ribeiro
3.º Lugar: O Espelho no Escuro, com letra de Carlos Omar Villela Gomes e Paulo Ridhi, e música de João Bosco Ayala Rodriguez e Nilton Júnior, na interpretação de Robledo Martins
Melhor Intérprete: Shana Müller em Un Llanto de Cunumi, com letra de Zé Renato Dauth, Diego Muller e Martim Cesar, e música de Juliano Moreno
Melhor Instrumentista: Eduardo Lopes, em Um Romance Chamamecero, de Wilson Vargas e Eduardo Lopes
Melhor Arranjo: Descendente
Melhor Tema sobre o Vale do Sinos e Música Mais Popular: Campo Bom é Um Paraíso, com letra de Roberto Ornes e música de Alexandre Oliveira, que também foi o intérprete
Melhor Indumentária: Quarteto Coração de Potro
*Crédito foto: Tânia Goulart texto:Tânia Goulart-abcdogaucho/jornalnh
sábado, 5 de março de 2011
Luíz Menezes
Ultimo Pouso
Luís Menezes
gentileza de Ivan Ramires
A morte a china ma leva
Traçoeira que até dá pena
Vive a pealar gente buena
Sem se importar com o gaudério
Não sei que estranho mistério
Na minha emoção se espelha
Quando minha alma se ajoelha
Ante a Cruz de um cemitério
Fico por horas bombeando
Fingindo frases ficticias
Que ali ficam com as noticias
Penduradas sobre a losa
Dizendo ó tu boa esposa
Dorme em paz aos pés de Deus
Que dirão então os meus
De mim que sou qualquer coisa
Basta morrer pra ser bueno
Basta sofrer pra ser junto
Quem nasce ou morre de susto
Nem frases fingidas tem
E dizer que no além
As almas são tão iguais
Pra que estes luxos demais
Depois que somos ninguém
Mais feliz é a cruz solita
longe no ermo da estrada
Sem fita sem flor sem nada
Marcando o fim de uma vida
Fica dormindo aquecida
No sol que logo a desbota
Sem frase fria ou lorota
Nesta sesteada comprida
Gosto da cruz do proscrito
Na solidão da campanha
Tendo a garrafa de canha
Por promessa recebida
Me dêem esta cruz perdida
Pra que o gaúcho passando
Viva sempre me acenando
Numa eterna despedida
Tomara que Santo Onofre
Seja no céu meu parceiro
Garanto que o dia inteiro
Vamos beber canha e vinho
E assim farei meu cantinho
Na invernada do Senhor
Serei mais um pecador
Tendo um santo por padrinho
Sei que vão falar de mim
Por mulherengo ou andejo
Mas fica aqui meu desejo
Expresso nesta oração
Não falem de um coração
Que no céu não terá luz
E amarrem bem minha cruz
Com as cordas do meu violão.
Luís Menezes
gentileza de Ivan Ramires
A morte a china ma leva
Traçoeira que até dá pena
Vive a pealar gente buena
Sem se importar com o gaudério
Não sei que estranho mistério
Na minha emoção se espelha
Quando minha alma se ajoelha
Ante a Cruz de um cemitério
Fico por horas bombeando
Fingindo frases ficticias
Que ali ficam com as noticias
Penduradas sobre a losa
Dizendo ó tu boa esposa
Dorme em paz aos pés de Deus
Que dirão então os meus
De mim que sou qualquer coisa
Basta morrer pra ser bueno
Basta sofrer pra ser junto
Quem nasce ou morre de susto
Nem frases fingidas tem
E dizer que no além
As almas são tão iguais
Pra que estes luxos demais
Depois que somos ninguém
Mais feliz é a cruz solita
longe no ermo da estrada
Sem fita sem flor sem nada
Marcando o fim de uma vida
Fica dormindo aquecida
No sol que logo a desbota
Sem frase fria ou lorota
Nesta sesteada comprida
Gosto da cruz do proscrito
Na solidão da campanha
Tendo a garrafa de canha
Por promessa recebida
Me dêem esta cruz perdida
Pra que o gaúcho passando
Viva sempre me acenando
Numa eterna despedida
Tomara que Santo Onofre
Seja no céu meu parceiro
Garanto que o dia inteiro
Vamos beber canha e vinho
E assim farei meu cantinho
Na invernada do Senhor
Serei mais um pecador
Tendo um santo por padrinho
Sei que vão falar de mim
Por mulherengo ou andejo
Mas fica aqui meu desejo
Expresso nesta oração
Não falem de um coração
Que no céu não terá luz
E amarrem bem minha cruz
Com as cordas do meu violão.
Luiz Coronel
Gaudêncio Sete Luas tem um Canto de Saudades
Autoria: Luiz Coronel
Atirei minha saudade
lá no fundo do riacho.
As águas foram gemendo
chorando ladeira abaixo.
Atirei minha saudade
lá no fogo da fogueira.
Quando o fogo virou cinza
a saudade estava inteira.
Pra bem fugir da saudade
eu montei na ventania.
Corri mundo e a saudade
na garupa me seguia.
sexta-feira, 4 de março de 2011
Gaúchada faz tempo não atualizo ,então aqui vai um poema do celebre Aparicio Silva Rillo(Mãe velha)
Mãe Velha
Autoria: Apparicio Silva Rillo
Cabelo era preto.
Que liso era o rosto!
Teu corpo era flor.
Cabelo era preto.
mas hoje, Mãe Velha,
cabelo branquinho,
geada e agosto
que não levantou.
Que liso era o rosto!
Agora, Mãe Velha,
rosto enrugadinho
parece co'as frutas
que o tempo secou.
Teu corpo era flor.
Mas hoje, Mãe Velha,
da flor, que ficou?
Só haste pendida
que a vida deixou.
A cor do cabelo
passou pro vestido.
O arado do pranto
no liso do corpo
que fundou que arou!
A haste pendida
curavada pra terra,
e a terra reclama
o que falta da flor.
- Papai foi pra guerra!
dizia o piá.
Mãe Velha era moça
no tempo que foi.
Mas veio a notícia:
- Teu homem morreu,
de lenço encarnado
e de lança na mão.
E os homens passavam
nos magros cavalos,
com barbas de mato,
com palas rasgados,
com pena da moça,
com raiva da guerra,
que mata um gaúcho
pra erguer um herói.
Mãe Velha - era moça -
chorou muito choro
no seu avental!
Abriu o oratório
da sala do rancho,
rezou padre-nosso
por alma do homem
que a guerra levara
de lenço encarnado
e de lança na mão.
E a Virgem Maria,
seu Filho nos braços,
olhava mãe moça
Mãe Velha ficar.
E a vida espiava
Mãe Velha viver:
- madrugada na mangueira,
leite branco na caneca,
chaleira chia na chapa,
costume faz chimarrão.
Gamela, farinha branca,
forno aceso, sova pão,
charque magro na panela,
canjica, soca pilão,
manjericão na janela,
vassoura roda no chão...
E a vida cobrava
tostão por tostão.
Mãe Velha, mais velha,
pagava pro tempo
a usura do dia.
Um sol que sumia
era mais um dobrão.
Piá se fez homem.
Mãe Velha com medo da revolução
Um dia, por fim,
piá foi s'embora
seguindo um clarim.
Mesminho que o pai:
de lenço encarnado
e de lança na mão.
Guria cresceu.
Sobrou no vestido
da chita floreada
que a mãe lhe cozeu.
Depois... se perdeu.
Mãe Velha chorando
o que a vida lhe fez,
no velho oratório
já reza por três.
A noite tem fala
na boca da noite,
a vida é mudinha,
nem boca não tem.
Por isso que a vida
ninguém não entende,
Mãe Velha, ninguém.
A vida, Mãe Velha,
que é mãe e mulher.
Autoria: Apparicio Silva Rillo
Cabelo era preto.
Que liso era o rosto!
Teu corpo era flor.
Cabelo era preto.
mas hoje, Mãe Velha,
cabelo branquinho,
geada e agosto
que não levantou.
Que liso era o rosto!
Agora, Mãe Velha,
rosto enrugadinho
parece co'as frutas
que o tempo secou.
Teu corpo era flor.
Mas hoje, Mãe Velha,
da flor, que ficou?
Só haste pendida
que a vida deixou.
A cor do cabelo
passou pro vestido.
O arado do pranto
no liso do corpo
que fundou que arou!
A haste pendida
curavada pra terra,
e a terra reclama
o que falta da flor.
- Papai foi pra guerra!
dizia o piá.
Mãe Velha era moça
no tempo que foi.
Mas veio a notícia:
- Teu homem morreu,
de lenço encarnado
e de lança na mão.
E os homens passavam
nos magros cavalos,
com barbas de mato,
com palas rasgados,
com pena da moça,
com raiva da guerra,
que mata um gaúcho
pra erguer um herói.
Mãe Velha - era moça -
chorou muito choro
no seu avental!
Abriu o oratório
da sala do rancho,
rezou padre-nosso
por alma do homem
que a guerra levara
de lenço encarnado
e de lança na mão.
E a Virgem Maria,
seu Filho nos braços,
olhava mãe moça
Mãe Velha ficar.
E a vida espiava
Mãe Velha viver:
- madrugada na mangueira,
leite branco na caneca,
chaleira chia na chapa,
costume faz chimarrão.
Gamela, farinha branca,
forno aceso, sova pão,
charque magro na panela,
canjica, soca pilão,
manjericão na janela,
vassoura roda no chão...
E a vida cobrava
tostão por tostão.
Mãe Velha, mais velha,
pagava pro tempo
a usura do dia.
Um sol que sumia
era mais um dobrão.
Piá se fez homem.
Mãe Velha com medo da revolução
Um dia, por fim,
piá foi s'embora
seguindo um clarim.
Mesminho que o pai:
de lenço encarnado
e de lança na mão.
Guria cresceu.
Sobrou no vestido
da chita floreada
que a mãe lhe cozeu.
Depois... se perdeu.
Mãe Velha chorando
o que a vida lhe fez,
no velho oratório
já reza por três.
A noite tem fala
na boca da noite,
a vida é mudinha,
nem boca não tem.
Por isso que a vida
ninguém não entende,
Mãe Velha, ninguém.
A vida, Mãe Velha,
que é mãe e mulher.
Assinar:
Postagens (Atom)