terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Como atar a cola do pingo


O gaúcho riograndense tem o hábito e lhe causa gosto especial – como que fascinação – de “andar de cola atada”, como ele mesmo diz na gíria campeira. Ele imagina, mentalmente, que cada modo cause um dado efeito nesse imemorial hábito simbólico do peão de estância,
Rio Grande do Sul, onde o próprio autor deste ensaio vagou campo fora em ocasiões por espaços de dias, há mais de 50 anos, desde que “me conheci por gente” pastoreado gados, “aquerenciado” ou reunido a tourada de 4 e 5 anos, ás vezes “bagual”, para castrála após o clássico adelgaço.
Esses touros, verdadeiras feras, sem costeio algum, eram postos em lugar plano, sem sanga, circundados por quinze, vinte ou mais gaúchos, os quais entravam de um a um no rodeio para enlaçar o seu escolhido ou tira-lo campo fora.
Montando em cavalos Crioulos que regulam de 1m,42, porque se escolhia o reprodutor baixo, comprido e de boa periferia – todos traziam atada a cola de seu corcel, o que o campeiro muito considerava, dizendo textualmente: “Meu cavalo é como um pensamento”, expressão até hoje usada por tradição e com orgulho.
Como se vê em linhas gerais, a cola atada embora não trazendo vantagem maior para o serviço, era mais um hábito e, especialmente, um ornamento, como pode ser o tirador, o lenço ao pescoço, ou extensivamente, no homem o anel, e na mulher, a pulseira e a própria pintura nos lábios, cuja frivolidade as mulheres de toda a esféra social adotam e está como epidemia – se é que pode ser considerada doença.
O uso do tirador, entretanto, tem função de utilidade, principalmente o de feito de antigo – regulando 2 palmos de largura por 3 e meio de comprimento, ou seja retangular. O material usado era um couro de terneiro, bem sovado, ou de animais selvagens, – guarachaim (sorro), gato palheiro, jaguatirica, capivara, etc. Mas, o mais apreciado, cara terístico e de muita duração, é o tirador de couro de lontra. A utilidade deste ornamento, usado por cima do chiripá, sobre a cintura, destina-se a passar o laçar ou pialar um animal.
Atualmente os tiradores são enormes couros curtidos, demasiadamente compridos e incomodos, prejudicando a agilidade do gaúcho, qualidade inerente ao homem de campo. Em paralelo a essa lamentável deturpação de nossos hábitos gaúchos, outros se têm introduzidos por mal entendimento: – A bombacha de uso do verdadeiro campeiro era estreita e não o exagero incomodo que a mocidade usa hoje por baixo do enorme tirador, que tolhe os movimentos e não tem significado prático algum. E note-se que, com muito poucas exceções, o homem de campo que usa esses exageros é sempre um péssimo campeiro ; não sabe carnear uma rês, é um mau laçador, não é identificado com o seu cavalo e descura das árduas funções das lides do campo, que exigem o homem simples e observador, moderado e vivo, sóbrio e de bom humor – sem a mínima preocupação do que usa e do que veste: são costumes hereditários alheios a sua percepção.
Atar a cola do redomão (cavalo de mais de três galopes) é usado para tirar as cócegas do mesmo. Usa-se, também, em tempo de grande chuvas, para passar em pântanos, evitando embarrar a cola.
‘Mais do que, porém, a estultícia da pintura dos lábios ou o beiço furado da selvagem, ou ainda o talho no rosto do negro africano, – a cola atada, em suas diversas modalidades – tem para o gaúcho um significado especial e tradicional.
O cavalo com a cola atada – por uma impressão nervosa que se comunicará ao sistema muscular e a todo o aparelho locomotor, – fica como mais ágil sentindo esse efeito.
Os 10 principais modos em voga atualmente para atar a cola são conhecidos por:



1 – Bailado
2 – Negro Velho
3 – Nó de Capataz (Para arrocinar cavalo)
4 – Passeio em carreira
5 – Corneta ( Essencialmente para corrida de cavalhadas, festas tradicional dos cidadão rio-grandense)
6 – Moço bonito (Para ver a noiva)
7 – Seguranças (Atado ao cavalo do amo, pelo seu peão ou capanga)
8 – Uruguaio (Usado no Rio G. do Sul mais para passeio)
9 – segurança
10 – Nó ligeiro(Para recolhidas ou apartes de rodeio)

Leônidas de Assis Brasil (Dedicado ao eng.º agr.º Roberto C. Dowdall).
Artigo publicado nos Anais da ACCC n º 13 – julho 1942

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

13/JANEIRO/2010

Luiz Marenco

E aqui vai um de meus versos(Pra minha cura)

PRA MINHA CURA.

Soguei um pensamento
Curei com barro de tempo
Fiz minhas préces caladas
Alsei a perna no nada
Mirando a cruz do meu tempo.

E o verso se fez luz
No escuro conduz
Candeeiro de vida
-Malva que cura as feridas
De minha alma esquecida.

Andava comforme o vento
Mas assim inda ando
Curando as penas com poemas
Benzendo com yuyos de campo

No zaino faço do tempo
Uma luzão um momento
Vivo comforme me vou...
Quem sabe no mas se calou?
-Deichei a guitarra calada-
Ficou apenas as marcas
Que meu tempo deixou

Da minha cura sei bem
É a estrada ,o que vem...
Porfia de espóras e basto
Minhas cantigas meus guardos
Curando o que o coração tem ...

Curei o que o tempo abriu
Com ponta de lança
-Um fumo a botella-
E nas mãos de uma benzedeira
Curei o que o corpo careçe
Na cicatriz da lembrança
Procuro a cura pra ansias
No poema em forma de préce...

Pra minha cura sei bem
Nas voltas do pensamento
Brotam ruínas de tempo
Curando com o que o poema tem...

Pedro Almeida
2010/novembro primavera

domingo, 2 de janeiro de 2011