quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Lo Maestro Don Alfredo Zitarrosa


Alfredo Zitarrosa nasceu Alfredo Iribarne, filho de Jesusa Blanca Nieve Iribarne, à época com 19 anos de idade, no Hospital Pereira Rossell, em Montevidéu.
Pouco depois que nasceu, Blanca entregou o filho para ser criado por Carlos Durán, homem de muitas ocupações, e sua esposa, Doraisella Carbajal, então funcionária do Conselho da Criança. O menino passa a ser conhecido por Alfredo "Pocho" Durán.
Os três moraram em vários bairros da cidade, mudando-se para a vila de Santiago Vazquez, onde viveriam entre 1944 e o final de 1947. Eram freqüentes as visitas à zona rural próxima à Trinidad, capital do Departamento de Flores, onde a mãe adotiva de Alfredo nasceu. Estas experiências na infância permaneceram com ele para sempre, sendo perceptíveis em seu repertório, majoritariamente composto por ritmos e canções de origem camponesa, principalmente milongas.

Alfredo retornou, por um curto espaço de tempo, com sua família adotiva para Montevidéu, no início da adolescência, e passou para morar com sua mãe biológica e seu marido, que haviam acabado de ter uma filha. O marido de sua mãe biológica, um argentino chamado Alfredo Nicolás Zitarrosa, posteriormente lhe daria o seu nome. Os quatro viviam na região atualmente conhecida como Rincón de la Bolsa, no km. 29,500 da antiga estrada de Colonia, Departamento de San José. De lá, freqüentava o liceu em Montevidéu, para onde se mudaria na juventude.
Ele viveu primeiramente com o casal Duran e, em seguida, na pensão da Sra. Ema, localizada na rua Colonia ,esquina com Medanos (hoje Barrios Amorín), para depois ocupar o famoso sótão da casa que funcionava também como uma pensão e pertencia a Blanca Iribarne, sua mãe, localizada na rua Yaguarón (hoje Aquiles Lanza) 1021, em frente à praça que atualmente leva o seu nome. Ele trabalhou, entre outras funções, como vendedor de móveis e de planos de saúde, além de operador em uma loja.
Começou a carreira artística em 1954, em uma emissora de rádio, como apresentador e animador, roteirista, e ator de teatro. Foi também escritor, poeta e jornalista.
Levado pelas circunstâncias, encontrava-se no Peru, quando fez sua estréia como cantor profissional em 1964, no dia 20 de Fevereiro, em um programa que era transmitido pelo canal 13 (Panamericana de Televisión). Assim começava uma carreira que não seria mais interrompida. Zitarrosa relata sua experiência: "No tenía ni un peso, pero sí muchos amigos. Uno de ellos, César Durand, regenteaba una agencia de publicidad y por sorpresa me incluyó en un programa de TV, y me obligó a cantar. Canté dos temas y cobré 50 dólares. Fue una sorpresa para mí, que me permitió reunir algunos pesos..." ("Eu não tinha nem um peso [nome da moeda de muitos países], mas muitos amigos. Um deles, Cesar Durand, dirigia uma agência de publicidade e de surpresa me incluiu num programa televisivo e obrigou-me a cantar. Cantei duas canções e cobrei 50 dólares. Foi uma surpresa para mim, o que me permitiu juntar alguns pesos...")
Pouco tempo depois, voltando para o Uruguai, passou pela Bolívia, onde realizou vários programas na Rádio Altiplano da cidade de La Paz, estreando mais tarde, em Montevidéu, novamente em1965, no auditório do SODRE (Servicio Oficial de Difusión Radioeléctrica). Sua participação neste espaço serviu como um trampolim para ser convidado, no início 1966, para o já reconhecido Festival de Cosquín, na Argentina, e de novo em 1985.
Desde o início, estabeleceu-se como uma das grandes vozes da música popular latino-americana, com raízes claramente folclóricas. Cultivava um estilo e conteúdo varonil, e sua voz grossa e de um acompanhamento típico de violão tornaram-se sua marca registrada.
Aderiu ao Frente Amplio (coligação de partidos da esquerda uruguaia), o que lhe levou ao ostracismo e depois ao exílio durante os anos da ditadura militar. Suas canções foram proibidas na Argentina, Chile e Uruguai durante os regimes ditatoriais que governaram esses países. Viveu depois, sucessivamente, em Argentina, Espanha e México, a partir de 9 de Fevereiro de 1976.
Revogada a proibição de sua música, como de tantos outros artistas na Argentina após a Guerra das Malvinas, instala-se novamente em Buenos Aires, onde realizou três apresentações consideradas memoráveis no Estádio Obras Sanitarias, em 1983. Quase um ano depois, regressou ao seu país, onde teve uma grande recepção no histórico 31 de Março de 1984, descrito por ele como "la experiencia más importante de mi vida" ("a experiência mais importante da minha vida") [1].

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A história de um dos grandes mestres do folklore latinoamericano Jorge Cafrune


Ele nasceu na fazenda "La Matilde", em A Sunchal, Perico del Carmen, Jujuy. Foi educado em San Salvador de Jujuy, tendo aulas de guitarra com Nicolas Lamadrid. Se mudou com sua família para Salta, onde conoceu a Luis Alberto Valdez, Tomas Alberto Campos e Gilberto Vaca, com quem formou o seu primeiro grupo "Las Voces de Huayra". Com esta formação gravou em 1957 o seu primeiro disco de acetato, com na gavadora de Salta "H. y R.". Naquela época foram "descobertos" por Ariel Ramirez, que os convocou para acompanhá-lo em um tour de Mar del Plata e várias províncias. Então Cafrune e Valdez foram chamados para o serviço militar e o grupo alterno sua formação original do grupo com substitutos de José Eduardo Sauad e Adolfo Luis Rodriguez. Estes novos integrantes formam parte da formação que esse mesmo ano gravou um disco de 12 faixas para o gravadora Columbia. Mais tarde seram comvocados para gravar um segundo álbum para a mesma empresa, mas desentendimentos entre os membros acabaram por levar à dissolução do grupo.

Ante uma nova comvocatória de Ramirez, Cafrune forma um novo grupo, "Los cantores de la alborada" ("Os Cantores da Alvorada"), acompanhado por Tomas Campos, Vaca Gilberto y Javier Pantaleon, todos da província de Jujuy. Após a apresentação de novo com Ramirez, Cafrune decide continuar a viagem sozinho e deixar o novo grupo. Nesta nova etapa de estréia em 1960 no Centro da cidade argentina de Salta a tomar imediatamente depois de uma longa turnê que iria levá-lo através das províncias de Chaco, Corrientes, Entre Ríos e Buenos Aires. Confrontados com uma recepção morna na capital, onde ele não tuvo lugar no rádio ou na televisão, decidiu continuar a turnê do Uruguai e do Brasil. No primeiro realizado a sua estreia televisiva no canal 4 do país oriental.

Em 1962 ele retornou para a Capital e entra em contato com Jaime Dávalos, que tinha um programa de televisão. Este lhe diz que devería tentar a sua sorte no Festival de Folklore do Cosquín. Cafrune viaja para a cidade de Córdoba e conseguir uma vaga para atuar fora da programação, dedicando-se eleita a primeira revelação pública. Então veio o primeiro solo ea consagração final com novas apresentações em rádio, televisão e teatro, bem como passeios longos em que ele sempre preferiu cidades pequenas para as grandes cidades. Foi em uma dessas aldeias, Huanguelén, na província de Buenos Aires, onde conheceu e promoveu um jovem cantor chamado José Larralde. Neste período também continuou apresentándose cada ano em Cosquín e ali, em 1965, sem o conhecimento da organização apresentou a uma cantora tucumana chamada Mercedes Sosa.

Em 1967 apresenta a turnê "De a caballo por mi Patria", ("De a cavalo por o meu país"), em homenagem à Chacho Peñaloza. Nese passeio Cafrune percorreu o país ao estilo dos velhos gaúchos, levando sua arte e sua mensagem a todos os cantos. Seus objetivos também incluiron captar as paisagens através da fotografia e a filmação de curtas-metragens televisivas, além de coletar dados sobre estilos de vida, costumes, cultura e tradições das diversas regiões. A turnê foi desastrosa para a economia, mas foi um grande sucesso quando, tendo em conta os reais objectivos que tinham sido propostos.

No final desta turnê, foi convocado para integrar umas comitivas artísticas argentinas que visitarom os Estados Unidos e Espanha. O evento na Península Ibérica era fabulosa, e Cafrune llegou a morar ali por vários anos, formando família com Lourdes López Garzón. Seu retorno ao país foi em 1977 quando seu pai morreu. Aqueles eram tempos difíceis para a Argentina, porque o governo estava nas mãos da ditadura militar liderada por Jorge Rafael Videla. Ao contrário de outros artistas envolvidos, que foram exilados quando começaram as ameaças e proibições, Cafrune decidiu ficar e continuar fazendo o que ele fez de melhor: cantar e opinar cantando e fazendo. Assim, no Festival de Cosquín de janeiro de 1978, quando ele pediu ao público uma canção que foi proibido, Zamba de mi esperanza, Cafrune concordou, argumentando que "embora não seja permitida na carteira, se meu povo me perguntar, eu vou a cantar." Segundo o testemunho de inscritos no relatório Nunca Mas, isso (além de música, a partir da Orejano, uma canção rebelde libertário) foi demais para os militares, e em um campo de concentração em Córdoba, o tenente-coronel Carlos Enrique Villanueva disse que "tinha de ser morto para avisar a os outros."

Em 31 de janeiro de 1978 como uma homenagem a José de San Martín, Cafrune empreendeu uma viagem a cavalo que lo levaria a Yapeyú, berço do Libertador, para colocar a terra de lugar de sua morte, Boulogne-sur-Mer. Naquela noite, pouco depois de sair, foi atingido na altura do Benavídez por um caminhão dirigido por um 19-year-old Hector Emilio Diaz. Cafrune morreu no mesmo dia à meia-noite, mas o fato nunca foi estabelecido e para a justiça foi apenas um acidente.
O fato que ele suspeita que sua morte foi causada pela ditadura fizo que corria o boato que Cafrune era comunista. Mas ele estava em contra do comunismo eo capitalismo: era um nacionalista convicto com grande respeito às suas terras e tradições.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Tava



A tava ou jogo do osso
 
Juego antiquísimo, ya conocido por los antiguos griegos, característico de la campaña argentina, a la que llegó traído - según parece - por los españoles. También se lo conoce como taba culera.

 
 
Consiste en tirar al aire un astrágalo de vaca o de carnero, similar al de la ilustración; se gana si al caer queda hacia arriba el lado cóncavo, o cara, llamado suerte; se pierde si queda hacia arriba el lado denominado culo.
La taba se llama tramposa cuando se le introducen cargas que sólo conoce el que lo ha hecho y que, tirada de cierta manera, siempre le resulta suerte.
 
Cuando la tabeada está organizada como explotación comercial, preside la reunión una especie de juez llamado canchero, que recibe una comisión o coima por jugada. en estas tabeadas rige un reglamento de juego o bien los jugadores convienen en respetar ciertas y determinadas condiciones, por ejemplo cuando la taba se para de punta, es pinino, admitiéndose en general, como suerte.
Fuente: Diccionario Folklórico Argentino, de Félix Coluccio, Ed. Plus Ultra, 815 pág, 7a. ed., 1991

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Romance do injustiçado (Aparicio Silva Rillo)






Como talhado em pau-ferro,
o carão de traços duros,
o bigodão mal cuidado
desabando sobre os lábios;
par de asas mui cansadas
de um avejão de cor negra.
Melena de muitos meses,
sobrando por sobre a gola
e o colorado de um lenço,
sangrando em riba do peito.

A bombacha de dois panos,
remangada sobre a bota.
Os cravos da espora grande
mordendo a franja do pala,
bem atirado pra trás.
No fivelão da guaiaca,
luzindo em campo de prata,
o louro das iniciais.

Sobrando da faixa negra
que lhe abarcava a cintura,
o cabo entalhado em chifre
da xerenga de dois palmos.
Um relho, trança de oito,
vinha arrastando a açoiteira
dependurado no pulso
pelo tento do fiel.

Pela rédea, o azulego,
se via que flor de flete
malgrado a estampa judiada
de pingo que muito andou.
Foi assim que há muitos anos
bateu nas casas da estância
o celebrado bandido
chamado “Estácio Arijo”.

Bandido
para a justiça,
por seu respeito se explique,
que as razões de um índio macho
nem sempre são bem aceitas
pelos códigos e leis.

Bandido
por ter sangrado,
igual de raiva e de armas
a um cujo que desonrara
a mais moça das irmãs.

Bandido,
porque apertado
entre as brigadas e a enchente,
já não podendo escapar
por debaixo da fumaça,
matou um dos quatro praças
que lo quiseram carnear.

Bandido,
porque seguido
por milicadas sequiosas
de uma vingança total,
fugiu da estrada real
para o mais fundo dos matos,
carneando chibos alheios
para o churrasco sem sal.

Bandido,
porque enleado
na rudez da ignorância,
fez da fuga e da distância
seu modo de mal viver;
porque quis a sina ingrata,
que nunca tivesse plata
para pagar um bacharel.

Bandido,
porque não teve,
a exemplo de tanta gente,
cancha livre, costas quentes,
à sombra de um coronel.

E assim viveu como bicho,
pelos fundões das fazendas,
a carregar a legenda
de perigoso e assassino,
ximbo, bagual, teatino,
com fama de touro alçado,
tragando o duro guisado
que lhe picava o destino.

N’algum bolicho de estrada
boleava a perna cestroso,
pelos domingos de tarde.
Para um cantil de cachaça,
meio quilo de bolacha
mais um punhado de sal.

Olhava de olhos compridos
para o mais das prateleiras,
pra um bom fumo amarelinho,
pros maços de palha buena,
para a erva de palmeira,
num saco sobre o balcão.
Mas vinha curto seu cobre,
mal e mal traz precisão;
o bolicheiro era pobre,
e ele não era ladrão.

E a polícia no seu rastro,
malgrado o tempo passado,
perseguido e acuado
por plainos e socavões,
sempre mudando de pouso
pra confundir os milicos,
que em manhas sim, era rico,
por evidentes razões.

Cansou-se um dia, afinal,
daquela vida de bicho,
daquele estranho cambicho
com as más volteadas da sorte,
de não ter rumo nem norte,
não ter descanso ou sossego.

E assim bateu cá na estância,
naquele entono de taita
que manda parar a gaita
por ter cansado do baile.
E ao patrão, velho Boerana,
pediu Estácio Arijo
que mandasse algum chirú
levar ao povo um recado:
que viesse o delegado,
que ele afinal resolvera:
ele, o bandido; ele, o maula,
trocar o largo dos campos
pelo encolhido das jaulas.

Nas suas noites de insônia,
entre um pelego e as estrelas,
conseguira convencer-se
que, sendo justa, a justiça
lhe entenderia as razões
e lhe daria, a lo muito,
poucos anos de condena
ou mesmo absolvição.

Foi então, que a meia tarde,
num fordecão atochado,
deu na estância o delegado
com quatro praças por quebra
para formar o sarilho:

quatro fuzis embalados,
quatro dedos no gatilho.

Então ... Estácio Arijo
tomou seu último mate,
no mesmo entono de guapo
que era seu jeito de sempre,
arrastou a espora grande
na direção dos milicos.

- Nem mais um passo!
gritou-lhe num gritinho de falsete,
o delegado, um joguete
nas mãos do chefe local.
- Levante as mãos!
- Largue as armas!
- Esteje preso, seu bandido,
seu metedor de pendenga!

E o Arijo, decidido
a entregar-se sem briga,
levou a mão à barriga
para descartar a xerenga.

- Cuidado! Berrou um praça.
Tremeram cinco covardes;
e na calma desta tarde
berraram quatro fuzis,
quatro sóis de fumo e sangue
se lhe acenderam no peito.

Foi desabando aos pouquitos
de frente para os milicos,
no jeito de um velho angico
caído junto às macegas
que lhe envejavam o entono.

E já quase adormecendo
para o derradeiro sono,
quatro vezes mal ferido,
teve ainda tino e ouvido
para escutar um dos cinco
que lhe gritava:
- Bandido!

Caiu ...
olhando pro céu,
tinto de sangue e de luz.
Dava-lhe o sol pela frente,
como a incendiar-lhe a figura,
a mais rica das molduras
para enquadrar um valente !