quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Noite Grande



(Gujo Teixeira)

Noite grande...!
Dos retratos antigos
pendurados na parede
descem os avós sorridentes,
mesmo desbotados pelo tempo,
e passeiam pela memória da casa.

Passos macios, qual novelos de lã.
Desses que as avós campeiras
dos seus teares e mãos mágicas
faziam bicharás para as invernias.
Lã, por certo, de algum cordeiro de Deus!

Os avôs, também campeiros,
antigos tal a saudade,
passeiam pela memória
de não esquecer nenhum fato.

São fantasmas pela memória da casa,
pelo corredor de janelas grandes,
pelo quarto de noites grandes,
pela sala de portas grandes para o pátio.

Na sala...
uma cadeira de balanço para embalar a saudade
e móveis tão antigos, iguais a ela.

São fantasmas pela memória do galpão
e sopram as brasas do fogo-de-chão
pra que este não morra de cinzas.

E reviram a memória do galpão.
De quando encilhavam cavalos gateados,
mouros e baios e quebravam bem o cacho.
Um lombilho, aperos de prata,
esporas luzindo o clarão da aurora.

Atavam ao pescoço um lenço
e terçavam ferro em alguma revolução
pela honra deste lenço bandeira,
de paz e guerra.

As avós...
na paciência de criar filhos, meus pais,
cuidavam sob o olhar atento
e o carinho das mãos.

Mãos mágicas, que sabiam como ninguém
fazer pães e tachadas de doces.
E cerzir panos e fazer bordados.
Mãos de aceno quando um filho partia,
pássaro que cria asas e voa sozinho.

Noite grande...!
E os avós que saíram dos retratos
passeiam pela memória da casa,
do galpão, de tudo e de todos!

Noite grande...!
E eles voltam p'ras suas molduras,
janelas de onde vêem e são vistos,
de onde lembram e são lembrados,
de onde amam e, com toda a certeza,
também são amados!

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